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Maior felino das Américas, a onça-pintada está criticamente ameaçada de extinção na caatinga

Foto: WWF / AFP


Por Elida Oliveira, G1

A população do maior felino das Américas está caindo. A onça-pintada, um carnívoro que pode chegar a até 135 kg e 75 cm de altura, já é considerada oficialmente extinta nos Estados Unidos e está sob ameaça em outros países. No Brasil, a espécie é vulnerável, mas o status de avaliação muda conforme o bioma no qual ela vive. A situação é mais delicada na caatinga, onde ela está criticamente ameaçada de extinção.

As espécies ameaçadas são foco da segunda série "Desafio Natureza", que já abordou as ações feitas para preservar a arara-azul-de-lear no sertão da Bahia.

A onça-pintada e a arara-de-lear fazem parte das 1.173 espécies que vivem sob risco de extinção no Brasil. A caatinga abriga 182 desses animais – 46 são espécies endêmicas, ou seja, só existem neste lugar do mundo.

Para ajudar na preservação da onça-pintada na caatinga, o governo federal criou em abril de 2018 o Parque Nacional do Boqueirão da Onça, com 347 mil hectares, e a área de proteção ambiental (Apa), de 505 mil hectares.

A presença deste tipo de felino no Boqueirão da Onça foi descoberta somente em 2006. Até então, acreditava-se que apenas a onça-parda (Puma concolor) vivia na região e que a pintada se restringia a outras áreas de caatinga. A comprovação da existência desta espécie naquele local específico fez com que o pedido de criação do parque nacional ganhasse mais força – uma discussão que já se arrastava há pelo menos 14 anos.


Foto: Igor Estrella/G1


A importância dos animais 'topo de cadeia'

Conhecida cientificamente como Panthera onca (sem cedilha), a onça-pintada é uma das prioridades da Red List (Lista Vermelha, em inglês), da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN). No Brasil, ela está presente em quase todos os biomas e está ameaçada em todos eles (veja quadro abaixo).

Embora o número de onças-pintadas seja igualmente crítico na mata atlântica e na caatinga, a situação é pior no bioma do semiárido porque, ele mesmo, não é alvo de conservação.

No caso das onças, que são territorialistas, a preservação do ambiente está diretamente ligada à manutenção da espécie, que pode ocupar até 495 km². Mas, segundo pesquisadores, 50% da área de vegetação nativa da caatinga já foi devastada.

Além disso, a escassez da cobertura vegetal pode afetar as nascentes da região, tornando o acesso à água ainda mais difícil para a onça.

A estimativa é de que existam menos de 250 indivíduos na região.

 Foto: WWF / AFP

“É uma espécie ecologicamente importante porque é topo da cadeia alimentar. A extinção desta espécie leva ao aumento de outras, que antes eram suas presas, e provoca o desequilíbrio ambiental”, diz Rogério Cunha, coordenador substituto do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), ligado ao Ministério do Meio Ambiente.
Um exemplo, conta Cunha, foi o que aconteceu no Oeste de São Paulo. Um estudo de impacto ambiental sobre a construção de uma hidrelétrica mostrou que as onças-pintadas, que antes viviam na região, foram mortas por fazendeiros após atacar o gado. Com o sumiço das onças, aumentaram as capivaras, que antes eram suas presas.

“As onças foram acompanhadas com coleiras [de monitoramento]. Com isso, vimos que as que foram para as áreas secas [após o alagamento] começaram a atacar o gado, porque as presas que ela comiam morreram afogadas no lago [da hidrelétrica]. Os fazendeiros passaram a matar as onças. A população de capivaras aumentou de forma assombrosa [porque não tinha mais onças para caçá-las], passaram a comer as plantações, aumentaram os casos de febre maculosa [transmitida pelo carrapato-estrela, que se hospeda na capivara]. Foi um efeito cascata”, explica Cunha.

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