O orçamento no vermelho tem obrigado as pessoas endividadas a fazerem malabarismo para se livrar das dívidas. Entre as principais causas de inadimplência estão o desemprego, o descontrole de gastos, a diminuição da renda, o empréstimo de nome a terceiros, o esquecimento de pagar as contas e o aumento de despesas de saúde e educação. É o que apontam os dados do Perfil do Inadimplente do segundo trimestre deste ano, realizado pela Boa Vista Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC).
Em busca de soluções para estes seis principais problemas que têm tirado o sono de muita gente, o CORREIO conversou com especialistas em educação financeira para ajudar aqueles que estão com dificuldade de fazer o dinheiro render e manter as contas em dia.
E não é pequeno o número de consumidores que se encontram nesta situação. Segundo o economista da Boa Vista SCPC, Flávio Calife, a inadimplência do consumidor registrou alta de 2,8% no primeiro semestre de 2016. Ainda de acordo com o levantamento, nos valores acumulados em 12 meses até junho (entre julho de 2015 e junho de 2016 contra os 12 meses antecedentes) a elevação foi de 3,2%. Na avaliação ante o mesmo mês do ano anterior, junho apresentou queda de 8,1%, enquanto na série com ajuste sazonal houve alta de 2,6% na comparação com o mês anterior.
“Até mesmo nas contas do dia a dia, as pessoas estão inadimplentes. O contexto de diminuição na renda e aumento nos custos acabou piorando a condição do orçamento das famílias”, afirma Calife.
Fatores
No levantamento, o desemprego é o motivo que mais impactou na capacidade do consumidor de pagar suas contas, com 42%, um crescimento de 11 pontos percentuais em relação ao segundo trimestre de 2015. O desemprego afeta mais as famílias que ganham até três salários mínimos, renda de 46% dos entrevistados.
No levantamento, o desemprego é o motivo que mais impactou na capacidade do consumidor de pagar suas contas, com 42%, um crescimento de 11 pontos percentuais em relação ao segundo trimestre de 2015. O desemprego afeta mais as famílias que ganham até três salários mínimos, renda de 46% dos entrevistados.
O segundo motivo foi o descontrole financeiro, com 24% das menções. Em terceiro lugar vem descontrole dos gastos, com 24% das menções (confira no gráfico). “Neste cenário de menos crédito e de menor renda, muitas pessoas perderam seu emprego. Paralelo a isso, a inflação elevou com força o preço dos produtos, muitos deles essenciais”, destaca o economista.
De modo geral, o valor médio devido neste segundo trimestre é de R$ 1.750. Quanto à percepção do endividamento, a pesquisa mostrou que 23% dos consumidores afirmam estar muito endividados, 42% mais ou menos e 35% pouco endividado. Um total de 42% declararam estar com até 25% da renda comprometida com o pagamento de dívidas e outros 19% estão com metade dela comprometida.
Como pagar as contas se perdi o emprego?
São 11,4 milhões brasileiros desempregados atualmente, de acordo com os últimos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A administradora Silvia Mendes é uma das pessoas que perderam o emprego após a empresa na qual trabalhava reduzir o número de funcionários para sobreviver à crise. “Fiquei desempregada no final do ano passado. Minha mãe que está me ajudando a pagar as contas”, afirma. Mãe de duas filhas, a administradora sentiu, sobretudo, a perda do plano de saúde e do cartão alimentação. “Proibi todo mundo em casa de ficar doente. O supermercado, sem dúvida, pesa muito no orçamento. Antes, o cartão alimentação resolvia”.
Mudança de hábito
A economista-chefe da SPC Brasil, Marcela Kawauti, reconhece que a situação não está fácil para o trabalhador. “O desemprego é reflexo de tudo que passamos nesses dois anos de recessão e perda de renda”, assegura. Quem perdeu o emprego vai precisar reorganizar o orçamento e readequar o padrão de consumo. “É importante ajustar o orçamento a esta realidade, fazer os cortes necessários e reduzir os custos, mesmo que isso implique atitudes mais drásticas e, a partir daí, ajustar o seu padrão de vida”, recomenda.
São 11,4 milhões brasileiros desempregados atualmente, de acordo com os últimos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A administradora Silvia Mendes é uma das pessoas que perderam o emprego após a empresa na qual trabalhava reduzir o número de funcionários para sobreviver à crise. “Fiquei desempregada no final do ano passado. Minha mãe que está me ajudando a pagar as contas”, afirma. Mãe de duas filhas, a administradora sentiu, sobretudo, a perda do plano de saúde e do cartão alimentação. “Proibi todo mundo em casa de ficar doente. O supermercado, sem dúvida, pesa muito no orçamento. Antes, o cartão alimentação resolvia”.
Mudança de hábito
A economista-chefe da SPC Brasil, Marcela Kawauti, reconhece que a situação não está fácil para o trabalhador. “O desemprego é reflexo de tudo que passamos nesses dois anos de recessão e perda de renda”, assegura. Quem perdeu o emprego vai precisar reorganizar o orçamento e readequar o padrão de consumo. “É importante ajustar o orçamento a esta realidade, fazer os cortes necessários e reduzir os custos, mesmo que isso implique atitudes mais drásticas e, a partir daí, ajustar o seu padrão de vida”, recomenda.
O que posso fazer para controlar os gastos?
Tem sido recorrente a preocupação da universitária Luana Souza com a fatura do cartão de crédito. Isto porque, quase todos os meses, ela acaba pagando o mínimo e caindo nos juros do rotativo por ir além do que realmente podia pagar. Em um ano, a “cilada” significa uma dívida 447,44% maior do que o valor inicial da fatura, conforme aponta a última pesquisa de juros feita pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). “Sempre acabo gastando com uma coisa que não tinha previsto antes. Compro e no outro mês corro para compensar o que extrapolou no cartão”, conta.
Planejamento
Para a educadora financeira da DSOP Educação Financeira, Meire Cardeal, vai ser preciso colocar um freio nestes gastos. “As pessoas têm dificuldade em acompanhar o quanto gastam e vão tocando o dia a dia, sem colocar isso no papel. Esta prática dificulta o controle financeiro e aí se gasta a mais do que se ganha”, pontua. O descontrole se torna ainda mais perigoso diante da alta de juros e da inflação. “Por isso, liste todas as suas despesas e coloque metas de redução. Com esse exercício dá para reduzir até 30% dos gastos e revertê-los em uma boa reserva financeira ou quitar alguma dívida”, aconselha.
Tem sido recorrente a preocupação da universitária Luana Souza com a fatura do cartão de crédito. Isto porque, quase todos os meses, ela acaba pagando o mínimo e caindo nos juros do rotativo por ir além do que realmente podia pagar. Em um ano, a “cilada” significa uma dívida 447,44% maior do que o valor inicial da fatura, conforme aponta a última pesquisa de juros feita pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). “Sempre acabo gastando com uma coisa que não tinha previsto antes. Compro e no outro mês corro para compensar o que extrapolou no cartão”, conta.
Planejamento
Para a educadora financeira da DSOP Educação Financeira, Meire Cardeal, vai ser preciso colocar um freio nestes gastos. “As pessoas têm dificuldade em acompanhar o quanto gastam e vão tocando o dia a dia, sem colocar isso no papel. Esta prática dificulta o controle financeiro e aí se gasta a mais do que se ganha”, pontua. O descontrole se torna ainda mais perigoso diante da alta de juros e da inflação. “Por isso, liste todas as suas despesas e coloque metas de redução. Com esse exercício dá para reduzir até 30% dos gastos e revertê-los em uma boa reserva financeira ou quitar alguma dívida”, aconselha.
Perdi parte da renda. Como resolver?
Muitas pessoas acabam endividadas por serem surpreendidas com uma redução no salário. Em um momento em que as despesas só aumentam, mas a renda não acompanha a inflação, resolver o problema também vai exigir cortes de despesas. “A inflação deteriora a renda porque os aumentos não acompanham o ganho real do trabalhador. Produtos como o feijão, por exemplo, pipocaram o preço para R$ 14 o quilo”, explica o educador financeiro Angelo Guerreiro.
Alternativas
O jeito vai ser buscar alternativas que realmente caibam no bolso segundo Angelo Guerreiro. “No caso de serviços como TV, telefonia e internet, negocie pacotes menores. Adote medidas também para reduzir o consumo nas contas de água e energia. No supermercado, busque os produtos mais baratos e troque por marcas mais acessíveis”. Outra solução é buscar uma renda extra, que não comprometa seu desempenho onde trabalha. “Aposte em algo que tenha afinidade e que saiba fazer bem”, comenta. Foi o que fez a técnica de laboratório Louise Porto após perder 50% do que ganhava. “Na hora tive um baque. Mas cortei compras desnecessárias, lazer com alto custo, e na faculdade tento ao máximo me equilibrar com as despesas acadêmicas”.
Muitas pessoas acabam endividadas por serem surpreendidas com uma redução no salário. Em um momento em que as despesas só aumentam, mas a renda não acompanha a inflação, resolver o problema também vai exigir cortes de despesas. “A inflação deteriora a renda porque os aumentos não acompanham o ganho real do trabalhador. Produtos como o feijão, por exemplo, pipocaram o preço para R$ 14 o quilo”, explica o educador financeiro Angelo Guerreiro.
Alternativas
O jeito vai ser buscar alternativas que realmente caibam no bolso segundo Angelo Guerreiro. “No caso de serviços como TV, telefonia e internet, negocie pacotes menores. Adote medidas também para reduzir o consumo nas contas de água e energia. No supermercado, busque os produtos mais baratos e troque por marcas mais acessíveis”. Outra solução é buscar uma renda extra, que não comprometa seu desempenho onde trabalha. “Aposte em algo que tenha afinidade e que saiba fazer bem”, comenta. Foi o que fez a técnica de laboratório Louise Porto após perder 50% do que ganhava. “Na hora tive um baque. Mas cortei compras desnecessárias, lazer com alto custo, e na faculdade tento ao máximo me equilibrar com as despesas acadêmicas”.
Emprestei o nome e ganhei dívida. E agora?
O problema começou quando o aposentado José Antônio Xavier viu seu irmão, que estava endividado, ter a necessidade de comprar um carro para trabalhar. “Quando chegou o dia do vencimento, ele não conseguiu pagar a prestação de R$ 1 mil e acabei sujando meu nome também”, conta. Assim como José Antônio, tem muita gente em todo o Brasil vivendo a mesma situação. Ao ver um amigo ou parente em situação difícil, empresta o nome. No final das contas, a boa ação pode se transformar em uma dívida, como alerta o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos. “Este é um erro capital da educação financeira. É melhor você doar e fazer algo que esteja dentro das suas possibilidades com um recurso que não fará falta”, orienta.
Consequências
José Antônio perdeu cartão de crédito, cheque e limite no banco. “Foi bem difícil, fiquei sem crédito nenhum. Tinha que comprar tudo à vista”, relata. Para evitar isso é preciso avaliar antes a sua real condição financeira. “Não fique na esperança de receber o dinheiro de volta. Pondere sua capacidade em segurar o custo, porque senão você também se endivida”, acrescenta Reinaldo Domingos.
O problema começou quando o aposentado José Antônio Xavier viu seu irmão, que estava endividado, ter a necessidade de comprar um carro para trabalhar. “Quando chegou o dia do vencimento, ele não conseguiu pagar a prestação de R$ 1 mil e acabei sujando meu nome também”, conta. Assim como José Antônio, tem muita gente em todo o Brasil vivendo a mesma situação. Ao ver um amigo ou parente em situação difícil, empresta o nome. No final das contas, a boa ação pode se transformar em uma dívida, como alerta o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos. “Este é um erro capital da educação financeira. É melhor você doar e fazer algo que esteja dentro das suas possibilidades com um recurso que não fará falta”, orienta.
Consequências
José Antônio perdeu cartão de crédito, cheque e limite no banco. “Foi bem difícil, fiquei sem crédito nenhum. Tinha que comprar tudo à vista”, relata. Para evitar isso é preciso avaliar antes a sua real condição financeira. “Não fique na esperança de receber o dinheiro de volta. Pondere sua capacidade em segurar o custo, porque senão você também se endivida”, acrescenta Reinaldo Domingos.
E se faltou dinheiro para pagar a conta?
Nem sempre a ginástica que a professora Verônica Silva tem feito para pagar as contas até a data do vencimento é suficiente para contemplar todas as despesas. Aí vem a difícil tarefa de definir prioridades. “É o jogo de cintura que a gente tem que ter, reflexo da situação econômica que estamos vivendo. Infelizmente, pago depois do vencimento e acabo arcando com os juros”.
Só o atraso do cartão chegou a acarretar R$ 100 a mais na conta. “As vezes o dinheiro de um sai num dia e o do outro só bem depois. Tenho que fazer rodízio de prioridades. O cartão é o maior problema. Se o dinheiro que tem naquela hora não dá para tudo, tem que esticar mesmo”, lamenta a professora.
Vencimento
Para facilitar o acompanhamento daquilo que precisa ser pago, o educador financeiro da DSOP Educação Financeira Edward Cláudio Junior recomenda que as datas de vencimento sejam padronizadas de acordo com a renda e a data de recebimento de cada salário que compõe a receita da pessoa. Vale ainda montar um calendário com tudo que precisa ser pago naquela data. “Dá para trocar a data da fatura do cartão de crédito, das contas de luz, água e serviços de telefonia e internet, adequá-las ao dia do salário e evitar estes juros. Pagar juros hoje é prejuízo”, pontua ele.
Nem sempre a ginástica que a professora Verônica Silva tem feito para pagar as contas até a data do vencimento é suficiente para contemplar todas as despesas. Aí vem a difícil tarefa de definir prioridades. “É o jogo de cintura que a gente tem que ter, reflexo da situação econômica que estamos vivendo. Infelizmente, pago depois do vencimento e acabo arcando com os juros”.
Só o atraso do cartão chegou a acarretar R$ 100 a mais na conta. “As vezes o dinheiro de um sai num dia e o do outro só bem depois. Tenho que fazer rodízio de prioridades. O cartão é o maior problema. Se o dinheiro que tem naquela hora não dá para tudo, tem que esticar mesmo”, lamenta a professora.
Vencimento
Para facilitar o acompanhamento daquilo que precisa ser pago, o educador financeiro da DSOP Educação Financeira Edward Cláudio Junior recomenda que as datas de vencimento sejam padronizadas de acordo com a renda e a data de recebimento de cada salário que compõe a receita da pessoa. Vale ainda montar um calendário com tudo que precisa ser pago naquela data. “Dá para trocar a data da fatura do cartão de crédito, das contas de luz, água e serviços de telefonia e internet, adequá-las ao dia do salário e evitar estes juros. Pagar juros hoje é prejuízo”, pontua ele.
Dá para reduzir gastos de saúde e educação?
Saúde e educação são gastos essenciais que costumam comprometer boa parte do orçamento. No caso da psicóloga Carine Bastos, o aumento no valor pago pelo plano de saúde apertou ainda mais as finanças. “Estou pagando 25% a mais após o plano ser reajustado para R$ 752. É uma diferença grande. A gente está tendo que apertar de um lado e do outro até encontrar outras alternativas de plano”, afirma. A psicóloga cogita ainda juntar-se com outros familiares e buscar um plano empresarial na tentativa de reduzir esta despesa. “É um aumento totalmente abusivo. A gente sabe que as coisas aumentam por causa da inflação, mas daí ficar acima disso é um absurdo. Não dá para sustentar”.
Impacto
A psicóloga tem razão quando diz que os aumentos não acompanham a renda, como ressalta o educador financeiro Antônio de Júlio. “O que cabe fazer é se preparar para esses aumentos com a manutenção de uma reserva financeira para emergências ou buscar opções mais em conta”, destaca. Mais uma vez, rever os gastos é fundamental. “É preciso economizar, buscar descontos e ver também o máximo de benefícios que pode tirar tanto dos serviços de educação quanto do plano de saúde que está pagando”.
Saúde e educação são gastos essenciais que costumam comprometer boa parte do orçamento. No caso da psicóloga Carine Bastos, o aumento no valor pago pelo plano de saúde apertou ainda mais as finanças. “Estou pagando 25% a mais após o plano ser reajustado para R$ 752. É uma diferença grande. A gente está tendo que apertar de um lado e do outro até encontrar outras alternativas de plano”, afirma. A psicóloga cogita ainda juntar-se com outros familiares e buscar um plano empresarial na tentativa de reduzir esta despesa. “É um aumento totalmente abusivo. A gente sabe que as coisas aumentam por causa da inflação, mas daí ficar acima disso é um absurdo. Não dá para sustentar”.
Impacto
A psicóloga tem razão quando diz que os aumentos não acompanham a renda, como ressalta o educador financeiro Antônio de Júlio. “O que cabe fazer é se preparar para esses aumentos com a manutenção de uma reserva financeira para emergências ou buscar opções mais em conta”, destaca. Mais uma vez, rever os gastos é fundamental. “É preciso economizar, buscar descontos e ver também o máximo de benefícios que pode tirar tanto dos serviços de educação quanto do plano de saúde que está pagando”.
Fonte: Priscila Natividade ()
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