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Guia prático do novo homem: saiba como enfrentar uma feminista

Foto: Arte CORREIO

O “novo feminismo” tá nas redes sociais, no chão da fábrica, na política, nos papos das esquinas, nos domingos em família. Faz tempo que passamos a ouvir palavras como sororidade e empoderada, isso apenas a repercussão, no nosso vocabulário, do quanto já se avançou. Umas acham que é feminismo “bater a raba”, outras, que isso é exposição desnecessária. Não seria sem treta, claro. Principalmente, com homem todo enrolado diante de mulheres que resolveram se apoiar derrubando o primeiro e grande mito de que todas são rivais. Há diferenças, claro, só que #tamojunta não é só hashtag, mas também premissa básica.
Pode ter cara de briga, mas, aqui, o verbo “enfrentar” quer dizer apenas “estar ou colocar(-se) defronte a, defrontar”. São muitos os feminismos, sabemos, mas resumindo, é o seguinte: igualdade de direitos e obrigações, mesmo respeito, mesma liberdade para homens e mulheres, sejam cis ou trans. Há variações nas diferentes vertentes do movimento e uma galera enorme que tem aprendido “de ouvido”, sem ler qualquer teoria. Tudo certo também. 
O básico é a proposta de ombro a ombro, lado a lado. Isso, absolutamente inegociável. Há dedos apontados, reivindicações, reformulação de relações, tudo sendo revisado. Em casa, no trabalho, chegando até àquele jeitinho “simpático” de dizer “minha ex é louca”, que não cola mais. 
Começaram a falar em “masculinidade tóxica” e afirmar que isso mata. Do mesmo modo, desmonstraram por A+B que o jeito de criar meninos tá todo cheio de defeitos. Aí, foi chamar na chincha mesmo e entre alívio, angústias, revoltas e escorregões em “cascas de bananas”, a ala masculina tenta se reorganizar. 
Tem muito homem que já entendeu e topa desconstruir, revisar, revisitar esse jeito antigo de ser “macho”. O grupo que ilustra esse guia, por exemplo, se reúne em Salvador pra quebrar o Silêncio dos Homens, expressão que virou nome de um documentário lançado semana passada. 
Há ruídos, dúvidas e vacilos, mesmo entre mulheres e nos caras bem intencionados. Estamos em obras, de fato. Por isso, a primeira edição de um guia com dez situações bem comuns e dicas de ilustres convidados(as).
1 - Piada machista não é nem um pouco engraçado

Os clássicos “mulher no volante, perigo constante” e “mulher é tudo igual: só muda de endereço” são apenas modelos prontos do infinito repertório de piadas e gracinhas que depreciam ou diminuem a figura feminina nas relações com os homens. Se ligue, bróder! Isso tá ficando mais fora de moda do que chamar a esposa de “federal”, como se toda mulher fosse “a obcecada” que pega no pé do cara, quando a gente sabe que não é. Portanto, lembra a apresentadora do Bahia Meio Dia, Jéssica Senra, reclamar de humor machista não é “mimimi”. “Quando alguém fala: ‘ah, isso é mimimi’, ela está dizendo: ‘olha, não me importa se isso está te fazendo sofrer. O meu riso é mais importante que a sua lágrima’”. Trazendo isso para o universo do machismo: “acho que os homens precisam repensar esse humor que deprecia ou diminui a mulher. O segredo é fazer o exercício da empatia, de repensar as atitudes, de admirar as mulheres e tirar elas desse lugar em que historicamente foram colocadas, como inferiores e incapazes. O homem precisa não só se descontruir, mas ter a coragem de levar isso para as rodinhas de amigos que fazem piadinhas desses tipo”, afirma Jéssica. Ou seja, não basta não ser machista, é preciso ser antimachista também.
2 - Sexo é encontro e o prazer é plural

Sabe os filmes pornôs que você já assistiu e os conselhos que seu tio te deu na adolescência para se tornar um garanhão, uma máquina de fazer sexo? Se você pretende seguir esses scripts na hora de transar com uma feminista, vai sair do encontro como ruim de cama. O novo homem está aberto a possibilidades, é sensível ao prazer feminino e não se coloca como o detentor do saber sobre sexo, diz o terapeuta corporal tântrico, Jorge Mahaprabhu, um dos entusiastas da masculinidade saudável. A primeira regra, diz Mahaprabhu, é levar em consideração também o prazer da mulher. “O que foi nos apresentado não é o real. A pornografia explora o visual masculino, coloca a mulher como totalmente submissa ao homem e foca o sexo na penetração com força e intensidade. Importantíssimo sair da fantasia que a mulher é submissa ao homem no sexo e valorizar outros aspectos da relação”, ensina o terapeuta. No processo de resignificação do sexo, o homem deve valorizar também o próprio prazer em todo o corpo, incentivando que a mulher tenha posturas ativas na relação sexual. “Outro aspecto importante é poder dialogar com o feminino, saber o que proporciona o prazer a ambos, permitindo novidades como uso de acessórios”.
3 - Tá por fora dar palpites no visual dela

“Batom vermelho é coisa de puta” ou “comigo você não sai vestida assim”. Esse tipo de frase já é impensável para muitos casais, mas ainda tem homem que se sente autorizado a agir como fiscal de corpo e figurino de mulher. Seja apontando quilos a mais, recriminando peças de roupa ou até, pasme, sugerindo procedimentos estéticos como lipoaspiração ou implante de silicone, as possibilidades de agredir (sim!) e passar vergonha são infinitas. “Ah, mas não pode dizer nada?”, você deve estar se perguntando. Pode sim, mas... “eu acho que o homem só deve opinar sobre o visual da mulher se a mulher pedir a opinião dele. Se a mulher não pedir, ele não precisa falar nada. A não ser que seja um elogio. Elogios são sempre bem vindos. Fora isso...”, ensina a jornalista e apresentadora do Band Mulher Pamela Lucciola. Ou seja, basicamente, é entender que a sua companheira não é um acessório a ser combinado com o seu estilo nem um animal de estimação que deve andar junto e com, com o comportamento esperado por você e mostrando apenas a parte do corpo que você quer que ela mostre. Também aqui, perceber que a relação é de igual para igual resolve muita coisa, poupando-lhe de vexames e pés na bunda justificadíssimos.


4 - E na hora de pagar a conta do bar ou do motel?

No primeiro encontro ou na vigência da relação, contas sempre chegam. Recente saia justa é saber quem vai pagar. Delicadeza, avareza, independência... todos esses conceitos pairam no ar durante aqueles segundos em que o garçom se aproxima da mesa, por exemplo. Na mão de quem vai parar a conta? O cineasta Rodrigo Luna é um homem que tira de letra, totalmente resolvido nesse tema. “Eu sempre dividi as contas nos encontros. Durante relacionamento, mais ainda. A gente sempre dividia em relação à situação financeira: quem tava melhor pagava mais ou tudo e várias vezes era ela quem pagava. Agora, tive uma situação que rolou comigo engraçada: num primeiro encontro do Tinder, a gente saiu pra tomar chope e tal, chegamos a ficar. Daí, na conta, ela não se prontificou a pagar e eu levei um bom tempo pra cair a ficha que ela esperava que eu pagasse, de tão desacostumado. Daí paguei, mas achei engraçado. Eu acho que a melhor forma de enfrentar uma feminista é perguntando mesmo: vamos dividir? É como faço com meus amigos, amigas, familiares ou numa mesa com desconhecidos... e daí é como eu acredito que seja a forma mais certa de fazer e na minha cabeça é isso que uma feminista quer”. Perfeito ou genial?
5 - E quando ela vai se divertir sozinha? O que fazer?

Seja uma noite com os(as) amigos(as), uma viagem ao Capão ou uma saída com a família, se ele não está junto, isso pode ser um problema. É que a insegurança masculina muitas vezes se transforma nessa violência de impedir o direito básico da companheira ir e vir. Crimes à parte (e eles acontecem, demais, nesses casos), urge rever a ideia de que homens são autoridades que têm o direito de decidir onde, quando e com quem mulheres devem ir. Uma “certeza” nem um pouco bacana que pode se revelar nas manifestações mais sutis, inclusive. Estamos falando daquele “comporte-se” que sai da boca do marido ou de um irônico “divirta-se”, com jeito de birra, que tenta provocar culpa e botar gosto ruim no rolê da moça. Se ligue que confiança é a palavra e que quem ama quer ver o(a) outro(a) feliz. “Ela não precisa pedir pra sair sozinha. Não é um pedido, é um aviso, uma comunicação natural, como qualquer pessoa que tem o direito de transitar onde quiser. E a beleza está nisso. O homem tem que entender que a beleza da relação está nesse oxigenar, nesse poder transitar por vários lugares. Isso é inteligência, isso é aprendizado”, diz o cantor e compositor Russo Passapusso, todo alinhado com a masculinidade saudável.
6 - Trate bem (e não queira ser o pai) do filho dela

Entenda que uma mãe com sua prole já é uma família. Cada vez menos mulheres acham que “falta alguém” nessa configuração, seja ela escolhida ou acidental. Independente de onde esteja o pai das crianças (morto, separado, presente, ausente ou no raio que o parta), nada mais cafona do que chegar àquela família se achando “a referência masculina”, todo prosa. Melhor pisar suave no território alheio, observando regras e costumes. Sobretudo, tratar bem as crias dela,e respeitar a autoridade da mãe. O resto é amor, se rolar, ou sair da história dignamente, quando o tempo de vocês acabar. “Eu já tive alguns relacionamentos depois que me separei do pai do meu filho. Qual a grande regra? Primeira coisa: meu filho não precisa de pai. Meu filho já tem o pai dele. O homem que chega em minha casa e começa a se relacionar comigo tem que tratar meu filho bem, com educação. Se ele não gostar do meu filho não vai ficar comigo. Melhor nem voltar. A prioridade é meu filho. Meu companheiro às vezes brinca com meu filho dizendo que vai levar ele para os “esqueminhas” para conhecer as menininhas. Vira e mexe a gente se desentende porque eu digo a ele: “Meu filho não precisa desse tipo de incentivo que faça ele acreditar que um cara retado é o que tem várias mulheres”, diz a jornalista Maíra Azevêdo (Tia Má), cheia de razão.
7 - ‘Ganhar’ a família dela sendo machista?

Começo de história e, entre vocês, tá tudo lindo, mas basta um encontro com o povo dela, para que você pule pro lado de lá. Sim, pro lado do pai que sempre achou ela “difícil”, da mãe que manda ela fazer seu prato (!!!) ou de amigos que fazem piadinhas sem graça. Bola fora, amiguinho. Se quer ficar bem com a moça, deixe claro que o seu fechamento é com sua gata e não com a família dela. Nessas horas, agradar o sogrão pode resultar em um pé na bunda bem dado, porque ela não tem obrigação de rir amarelo e suportar sua cena de macho babaca. Nas palavras do psicólogo Caio Rohr, “acho que antes de mais nada precisamos compreender o lugar que temos na vida daquela pessoa e o lugar que ela nos reserva e o quanto aquilo nos cabe para que não sejamos seduzidos ou cooptados por um sistema que pode parecer receptivo, mas que na verdade exerce violências sutis e duradouras. Nosso relacionamento é com a nossa companheira e esse vínculo precisa ser o principal. As aproximações devem ser graduais e seguindo a abertura que a pessoa te dá, pois se estamos entrando na vida de alguém é porque aquela pessoa cede um espaço que é dela e isso deve ser respeitado e reverenciado”. Caio Rohr disse tudo, né não?
8 - Paquera: chegue com calma, parceiro!

Na terra do Carnaval, puxar pelo braço, agarrar pela cintura e até beijar à força já foram atitudes naturalizadas. Hoje, atos como esses não só continuam a ser considerados por elas como “nojentos” como podem ser enquadrados no Código Penal: assédio sexual ou até estupro. Mas, para além das atitudes extremas, muito homem ainda não entendeu que as mulheres não gostam de aproximações invasivas. É preciso saber chegar, irmão! Administrador do perfil do Instagram O Macho da Relação, o educador e terapeuta Marcus Boaventura ensina que, na hora de paquerar, é preciso ter sensibilidade para perceber o interesse mútuo e, a partir daí, arriscar a aproximação. “Por vezes o homem leva um papo que não é legal e fica revoltado quando ouve a negativa. Como dica, eu sugiro que ele primeiro perceba o interesse mútuo. O segundo passo é chegar demonstrando interesse pela mulher por completo e não só pela imagem física, estética. É legal também demonstrar interesse naquilo que ela diz, no que ela faz, no que ela ama fazer, tem que construir um papo que vai além daquela paquera manjada e cheia de script”. Claro, isso tudo se for o caso de o homem resolver chegar em uma mulher. Mas, é bom não se assustar se ela chegar em você. Por que não?
9 - Como você trata os filhos da relação anterior?

O exercício da paternidade predispõe um pai presente em todos os momentos. Não só na hora de levar o filho para tomar um sorvete ou para o estádio de futebol, mas também na ida ao médico ou na hora de fazer o dever de casa e até de se arrumar para ir à escola. Em vez de rivalizar com as crianças, a mulher que é feminista e se relaciona com um homem que é pai em outro relacionamento está atenta à maneira com que o companheiro exerce essa paternidade. A advogada Mariana Régis diz que desconfia do companheiro que se coloca simplesmente como um “pai de selfie” ou “pai de fim de semana”. “Como feminista, eu não aceitaria ver um homem terceirizando os cuidados dos filhos para a mãe dele, para irmãs ou para empregadas. É algo que acontece demais! Esses homens muitas vezes disputam na Justiça o período de convívio, mas quando as crianças estão com eles, sequer se preocupam em cuidar dessas crianças. Eu me preocuparia bastante se o meu companheiro sempre estivesse deixando o filho com a mãe para sair comigo. Eu esperaria que esse homem estivesse em contato direto com a criança. Não que nunca pudesse estar com outras pessoas, mas desconfie se ele sempre estiver delegando para outras mulheres os cuidados com o filho”.
10 - Tem que respeitar! Chefe é chefe, né pai!

O machismo está entranhado em todos os meios sociais, inclusive nas relações de trabalho. Ainda que cada vez mais mulheres estejam assumindo cargos de alta patente nas empresas, elas não estão livres de ser diminuídas pela masculinidade tóxica de colegas e/ou liderados, no trabalho. Isso acontece de muitas maneiras. Por exemplo, sendo debochada por uma declaração ou tendo suas falas interrompidas em reuniões. Quando se é mulher e chefe, as garantias de que a hierarquia será respeitada se tornam reduzidas, acredita a advogada Priscila Pinheiro. “Às vezes o cara acha que a mulher quer fazer e acontecer só para mostrar que é chefe, mas na verdade ela está simplesmente exercendo a função dela”. Portanto, o homem que tem uma mulher como chefe não deve trata-la nem como homem e nem como mulher, mas de acordo com o cargo que ela ocupa. “Não dá para desfazer da capacidade intelectual da sua chefe porque ela é mulher, não dá pra fazer fuxico sobre ela no trabalho porque ela é mulher. Não dá pra ficar interrompendo constantemente aquela mulher nas reuniões ou ficar repetindo aquilo que ela já sabe só para diminuí-la. Não dá pra distorcer aquilo que ela diz”. É o óbvio, mas a gente faz questão de lembrar.
Não fique só
1 Entre Homens: Grupo de homens que se encontra todas as quartas-feiras para discutir sobre masculinidade saudável: (71) 99996-6374 / (71) 99616-1416 
2 Caio Rohr Psicólogo Junguiano que exibiu em Salvador o filme Silêncio dos Homens e busca formar grupos de discussão sobre a temática da masculinidade saudável: (71) 99184-0201
3 Perfis no Instagram @omachodarelaca/@sagrado.masculino/@festivalmundohomem 
O Correio

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