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Ao pé do rádio: com internet limitada, alunos de cidade da Bahia sintonizam aula pela FM

 


“Atenção, alunos da rede municipal, vai começar o programa Educação ao Pé do Rádio”. Ao escutar essa chamada todas as quintas-feiras, às 14h, Davi Correia dos Santos, de 14 anos, põe o caderno na mesa e se presta a ouvir e anotar a aula semanal, transmitida pela frequência 103.7 FM, da emissora RB Líder. Morador da zona rural da cidade de Ruy Barbosa, na Chapada Diamantina, ele e outros cerca de 4,8 mil estudantes das 42 escolas ou creches públicas do município estão aprendendo por meio da rádio local — a alternativa encontrada para alcançar toda a comunidade, já que nem todos têm acesso à internet.

Prevendo o impacto no ensino com a suspensão das aulas na Bahia na metade de março, Dilma Pereira, coordenadora pedagógica da cidade, ficou preocupada com a meninada em casa sem acesso aos conteúdos e teve um estalo. “Pensei: ‘Certo, nem todos têm celular e acesso à internet, mas como a gente pode chegar nesses alunos?’ E aí me veio na mente as duas emissoras da cidade. Sabia que uma delas tem potência mais alta, capaz de chegar nos locais mais distantes, daí tive a ideia de fazer um programa de rádio”, recorda.

Enquanto as escolas particulares em todo o país avançam na adaptação para o ensino remoto pela internet, na Bahia mais de 1,5 milhão de casas ainda não têm acesso à rede, o que representa 30% dos domicílios existentes no estado, segundo a pesquisa mais recente do IBGE (2018). A taxa corresponde a quase o dobro da nacional, que é de 17% das casas.

Conhecendo a realidade dos estudantes e tendo em conta que o rádio é o meio de maior penetração na pequena cidade de 30 mil habitantes, Dilma levou a ideia para a Secretaria Municipal de Educação (Semec), que aprovou o projeto e colocou em prática em maio. De acordo com a secretária Floriceia Alves, os professores preparam um módulo com quatro audioaulas por mês e a programação é dividida: os alunos dos anos iniciais do fundamental ouvem às terças e os dos anos finais às quintas.

As aulas tratam de temas transversais e já abordaram práticas de saúde durante a pandemia, a geografia da Serra do Orobó, localizada na região da cidade, curiosidades, momento musical, entre outros. Cada edição do programa tem duração de uma hora e sempre encerra com um dever de casa, geralmente uma redação.

Além das aulas pelo rádio, a galerinha ainda recebe atividades impressas e livros de literatura, que são entregues mensalmente quando os pais ou responsáveis vão buscar os kits de merenda escolar. A secretária conta que a ideia de distribuir as obras literárias veio depois de assistir uma live da Secretaria de Educação do Estado (SEC) com a participação do educador português Antônio Nóvoa, ex-reitor da Universidade de Lisboa.

O Correio

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