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Brigou por causa da política? Aprenda a se reconciliar


No terremoto das eleições de 2018, vence a família que ficar de pé no final. Interagindo pelas redes sociais é impossível fugir — seja como testemunha ou atuante — de uma briga sobre posicionamentos políticos e as questões que cada um deles levanta. Os resultados não podiam ser mais desastrosos: são sobrinhos revolucionários cortando amizades com tios conservadores, namorados dando um tempo no relacionamento por defenderem ideais distintos e colegas de trabalho que se encaram com estranheza após descobrirem opiniões que os decepcionam. No Facebook tem até organização de festas de Natal entre aqueles que foram banidos das famílias após brigas causadas por divergências políticas.

Brincadeira ou não, o fato é que muitas relações — sejam elas familiares, amorosas ou de trabalho — ficaram abaladas após um intenso ano de eleições. Independentemente do resultado, fica a questão: como retomar os laços afetados por opiniões divergentes? 
 
— Ou deixamos claro que o sentimento em relação à pessoa não mudou apesar da posição oposta ou cortamos os laços definitivamente. Ambas as decisões, no entanto, implicam uma reavaliação minuciosa dessas turbulências. Se a agressão do outro for muito forte, deixe bem claro o quanto ela o machuca, respeitando os próprios limites. Por isso, se o próximo não consegue enxergar o quanto lhe faz mal, afaste-se. Se não é tão grave, procure entendê-lo e faça-se entender praticando a empatia — sugere Marie Bendelac Ururahy, formada em Ciência da Psicologia do Coaching pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. 


Empatia é a palavra chave da comunicação não-violenta, uma metodologia da psicologia desenvolvida por Marshal Rosemberg na década de 60 para auxiliar a conciliação de brancos e negros após o fim da segregação racial. O principal objetivo do método, que pode ser aplicado de núcleos familiares a grandes cenários diplomáticos, é evitar o desgaste nos relacionamentos causado por posturas desrespeitosas e violentas influenciadas. Embora seus quatro princípios não sejam difíceis de entender, colocá-los em prática pode exigir muito autocontrole: 
— A comunicação não-violenta é sobre analisar tanto os sentimentos internos quanto os do próximo. Diante de um ataque de quem não conhece esses princípios, cabe a quem os pratica não ceder à tentação de se juntar ao conflito seja se afastando do celular, caso a discussão aconteça pelas redes, bebendo água ou dando uma volta. Quando as necessidades pessoais da discussão forem esclarecidas após a reflexão, volte e procure estabelecer um diálogo saudável — ensina Ururahy. 
 
Caso quem ataca não esteja disposto a conversar, e a necessidade de harmonia não seja urgente, não se deve insistir. Neste cenário, responder com silêncio também é efetivo para evitar conflitos: 
— Mas a estratégia mais eficaz da comunicação não-violenta é responder com uma pergunta empática. Se alguém dá uma opinião que incomoda seus valores, por exemplo, procure rebater com perguntas. Todo ataque violento possui no fundo uma necessidade que precisa ser compreendida e, quando estamos dispostos a entender, a postura de quem ataca se atenua. Com a conexão estabelecida, é possível procurar objetivos que se tenham em comum quanto a uma questão e, então, debatê-lo com civilidade. 

O primeiro princípio da comunicação não-violenta é distinguir observação de julgamento. A quem for expressar uma opinião, a especialista aconselha uma avaliação factual, ou seja, falar sobre o que viu e ouviu sem inserir "achismos" que podem afastar os outros. Se um funcionário anda chegando atrasado no trabalho, não o repreenda. Opte por comentar sobre os atrasos e, em seguida, pergunte por que eles estão acontecendo. 

O segundo passo é expressar os sentimentos pessoais sobre a atitude, sejam eles preocupações ou decepções. Se o funcionário está chegando atrasado e isso atrapalha o desenrolar das tarefas, mostre como se preocupa com os efeitos que isso pode causar na produção. Em seguida, deve-se traduzir a necessidade e, enfim, fazer um pedido para o outro. Ou seja, como chefe, peça ao funcionário para evitar os atrasos, apresentando as consequências que a falta de pontualidade pode desencadear no funcionamento da empresa. É importante que essas consequências não sejam usadas como ameaças. 

São três as etapas da comunicação não-violenta: uma proposta de conexão, o exercício de empatia e um pedido de ação. Na prática, Marie explica como funciona: 
— Pensemos num grupo de Whatsapp discutindo política. Antes de se trazer o tema à tona, é importante debater com o grupo se é válido ou não falar sobre o assunto pelo bem das relações. Se não for possível, antes de alguém compartilhar algo, é necessário informar a intenção do conteúdo. Pode ser apenas um desabafo, uma procura por compreensão daqueles que partilham do mesmo ponto de vista ou mesmo a tentativa de fazer os outros mudarem de ideia. Deve-se entender, porém, que em questão de valores é muito difícil convencer alguém a abandoná-los.

Agência O Globo

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